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Aqui, mamães muito diferentes mas com um único objetivo compartilham suas experiências nesta grande aventura que é a maternidade! Nós queremos, acima de tudo, ser mamães sábias, que edificam seus lares e vivem com toda plenitude o privilégio de sermos mães! Usamos muitos dos princípios ensinados pelo Nana Nenê - Gary Ezzo, assim como outros livros. Nosso objetivo é compartilhar o que aprendemos a fim de facilitar a vida das mamães! Fomos realmente abençoadas com livros (e cursos) e queremos passar isso para frente!


"Com sabedoria se constroi a casa, e com discernimento se consolida.
Pelo conhecimento os seus cômodos se enchem do que é precioso e agradável"
Prov. 24:4,5

sábado, 15 de dezembro de 2012

Parto no Brasil: a caminho da humanização - parte 2

Depois de publicar a primeira parte do vídeo ontem, me peguei pensando se as cenas fortes não iriam assustar algumas mamães a ponto de desistirem da ideia do parto normal. De fato, são cenas chocantes! O vídeo não é nem um pouco romanceado e mostra bem a realidade - nua e crua - do processo de parir uma criança, do jeitinho que Deus criou para ser! Não sei vocês, mas esse tema me fascina porque me faz pensar na perfeição da fisiologia humana.

Nosso corpo é perfeito: ele é capaz de gerar vida e de dar à luz!

Eu já tive dois partos normais e me lembro bem do medo que me deu da primeira vez. A barriga foi crescendo, crescendo e eu pensei: Como é que esse bebê vai sair "por lá"?? Não parecia algo possível de acontecer!! Por isso, lia tudo o que podia a respeito, pesquisava, conversava com mulheres que tinham tido parto normal, ouvia histórias mil e orava, orava, orava - pedia a Deus para não me deixar sentir muita dor (sem dúvida, meu maior medo!), que fosse suportável, que fosse uma experiência vibrante e transformadora. Espero que você, amiga gestante, faça o mesmo. Se inteire do assunto. O seu parto é uma experiência única e emocionante. Você pode se preparar para ele!

Por mais chocantes que esses vídeos sejam, eu acho que ter conhecimento é sempre algo bom. Sim, talvez você fique arrepiada ou assustada em alguns momentos, porém acho que o conhecimento nos liberta de medos sem fundamento e a ignorância nos leva por caminhos sofríveis. Falo por mim, passei pela experiência duas vezes e estou boba de ver quantas coisas eu não sabia sobre partos! Ah, se eu soubesse teria feito muita coisa diferente - principalmente no parto da Alícia que foi tão sofrido e isso por erros e mais erros, total falta de orientação e informação!

Apenas para recapitular a parte 1, vou comentar três pontos que foram novidade para mim:

1 - Eu não fazia ideia que era possível ter lacerações que não necessitam de suturas e que é melhor evitá-las já que a cicatrização da sutura é mais traumática do que o reparo espontâneo. Deus pensou em tudo!

2 - Vocês repararam que nas duas histórias de parto foram as pacientes que escolheram onde queriam parir? Eu achei isso o máximo porque nas minhas experiências de parto em rede privada, ninguém me perguntou se eu queria estar deitada naquela mesa de parto. No parto da Alícia, minha maior vontade era ficar em pé, mas não podia. Eles queriam me amarrar na cama, para eu não me mexer muito e não atrapalhar o trabalho deles. E se pensar, é bem o que fazem quando prendem nossas pernas naquele suporte! Aliás, já parou pra pensar que porque suas pernas estão para o ar, pra conseguir sair o bebê precisa praticamente empurrar pra cima? Que coisa louca e sem sentido. Para que ir contra a lei da gravidade? Não é à toa que, no parto da Nicole, eu lembro muito bem que a mulher subiu na banquetinha ao lado da cama e começou a empurrar a minha barriga com força!! O Douglas a filmou fazendo isso e ela deu uma bronca nele. Eu não senti dor porque nessa hora eu já estava anestesiada, mas não faz sentido ser assim, né? Dificultam a passagem do bebê fazendo a parturiente ficar deitada com as pernas para cima e depois precisam fazer manobras agressivas para o momento expulsivo. Acredito que se nessa hora eu tivesse ficado numa posição melhor e mais confortável (para mim), o momento expulsivo teria sido mais tranquilo e mais natural.

3 - Sim, a analgesia deve ser dada à parturiente quando solicitada e, até onde eu sei, isso é práxis na rede privada. Mas nunca tinha ouvido falar que isso acontecia também em hospitais públicos! Muito dez esse projeto. Agora eu me pergunto: se o governo dá os recursos para a analgesia na rede pública, então por que somente nesse hospital é que eles estão sendo utilizados?

Como prometi, segue a segunda parte do vídeo sobre o projeto e a minha transcrição para quem quiser apenas fazer a leitura. Os assuntos abordados hoje são interessantíssimos. A doutora fala sobre assistência humanizada no parto cesariana (algo que eu nunca tinha ouvido falar) e sobre procedimentos desnecessários, como a episiotomia.

Achei essa uma das partes mais fortes de todo o vídeo sobre o projeto, mas aprendi muito com ela!


Parte 2 - 7:48 min
Eu não gosto de falar do termo ‘cesariana humanizada’. Eu gosto de falar de ‘assistência humanizada à cesariana’. O que a gente tenta nesse momento? Tenta mimetizar, chegar ao mais próximo possível do que seria o parto normal. Até para mãe e bebê se reconhecerem. Os mesmos procedimentos: ligadura tardia do cordão, entrega o bebê pra mãe, abaixa os campos, ela assiste ao nascimento do bebê. Esse nascimento a gente vai tentar fazer de forma lenta. Tentar fazer com que ele comprima a cabeça e o tórax, receba esse abraço da parede materna, mimetizando o que seria no parto normal. Então a proposta básica da assistência humanizada à cesariana é permitir a participação da família, a gente vai explicando todos os passos e essencialmente estabelecer esse contato precoce entre mãe e bebê, de preferência com aleitamento durante a cesariana. Você pode perfeitamente passar a cesariana todinha com o bebê mamando no peito.

Edna - 18 anos de idade
Gestante de 40 semanas e 2 dias

Sobre a Edna:

Ela tinha sido internada há várias horas em pródromos (=início de trabalho de parto). Acontece muito frequentemente essa internação precoce, o que de certa forma é deletéria (=nociva) e perturba o equilíbrio do trabalho de parto. A mulher se hospitaliza precocemente e, devido ao estresse do ambiente hospitalar, acaba por não evoluir satisfatoriamente. Finalmente ela entrou aqui no projeto e nós pudemos conversar com ela. E ela ficou um tanto quanto reticente sobre as inovações que nós estávamos trazendo: a ideia de caminhar, a ideia de ter um parto em outra posição que não a posição de cúbito dorsal, mas depois ela incorporou totalmente. 

Ela completou a dilatação, chegou a ir pra sala de parto, mas era um bebê muito alto e depois de vários esforços não descia. A gente estava monitorizando a evolução do trabalho de parto aqui no nosso Partograma. Há algumas horas ela já tinha passado a Linha de Alerta, e aqui ela ultrapassou a Linha de Ação. Pelo Partograma aqui a gente vê um diagnóstico bem sugestivo de disproporção do cefalopélvico, indicação primária da cesariana. Entretanto, quando nós conduzimos a paciente para o centro cirúrgico, que ela se deitou depois da anestesia, pudemos observar que era um quadro de distensão segmentar com formação do Anel de Bandl.

Procedimentos Desnecessários
A gente deve destacar que devem ser evitados procedimentos desnecessários como tricotomia, enteróclise e episiotomia.


A tricotomia não é necessária e pode ser prejudicial. Por quê? Porque se a mulher precisar de uma intervenção cirúrgica, quanto maior o tempo entre a raspagem dos pêlos e a incisão, maior o risco de infecção. Então ela não deveria ser realizada.

A enteróclise, o enema, a lavagem não é necessária, é incômoda, considerada constrangedora por muitas mulheres e ainda aumenta o risco de, na hora do período expulsivo, a mulher eliminar não fezes sólidas que não contaminam o campo, mas fezes líquidas que podem contaminar toda a área. 

Episiotomia sem necessidade já foi definida por alguns, como Wagner, como mutilação genital feminina. Se acumularam durante os anos evidências científicas sólidas de que a episiotomia, o corte cirúrgico para ampliar o períneo na hora do parto, não só é desnecessária como pode ser prejudicial. Todos os estudos controlados, incluindo a revisão sistemática da Biblioteca Cochrane, mostram que quando não se realiza episiotomia a perda de sangue é significativamente menor. É um corte que é mais difícil de se cicatrizar, é mais difícil de se reparar, se gastam mais fibras. Está associada com a cicatrização mais lenta, o aumento da dor perineal pós-parto e com aumento do tempo necessário para o retorno da atividade sexual. Os estudos já mostraram que ela não encurta o período expulsivo, não protege o bebê contra o que se imaginava que era a compressão exagerada da cabeça fetal. Enfim, ela não é necessária.

Mas não basta não fazer episiotomia, o períneo íntegro deve ser a nossa meta. Nem sempre a gente vai conseguir, mas a gente consegue muitas vezes períneo íntegro ou então lacerações que não requerem sutura. 

E quais seriam os cuidados? Primeiro é evitar a nefanda (=abominável) Manobra de Kristeller. Não há nenhuma evidência de que ela seja efetiva para encurtar o período expulsivo e há sugestão de que comprometa também a oxigenação fetal. Mais ainda, a gente tem relatos e séries de casos de efeitos catastróficos como rutura uterina, rutura de baço e sofrimento fetal. E ainda aumenta muito o risco de lacerações perineais. É uma pressão muito grande que se exerce sobre o fundo de útero. Evitar as recomendações também clássicas de “força comprida”, “força de cocô”, “trinque os dentes e faça força”. Todas essas manobras, que têm muito a ver com a Manobra de Valsalva, são deletérias e forçam muito o períneo, estão associadas com maior chance de lacerações. O que se quer na hora do período expulsivo é que a mulher relaxe e não contraia o períneo. E o que poderia ajudar? Técnicas de respiração que mantenham a glote aberta, estratégias de vocalização - abrir a boca, vocalizar, esse ‘ahhh’ - e outras técnicas que a gente chama de “open glottis”, massagem perineal e o uso de compressas mornas que as parteiras tradicionalmente chamam de ‘aparar o períneo’. Há uma explicação fisiológica: a gente vai alongar a fibra, a gente vai facilitar a moldagem perineal. O calor também favorece isso daí, mas eu acho que o essencial nessas estratégias de proteção perineal é muito mais o que não fazer. 

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